Conheça os ambientes e os significados do Museu Casa Darcy Ribeiro, em Maricá

Residência de um dos maiores pensadores sociais do Brasil é projetada por Oscar Niemeyer e foi transformada em local de cultura e reflexão pela Codemar

Antes um ambiente privado restrito a um dos maiores nomes da antropologia brasileira, a casa de Darcy Ribeiro em Maricá, no Rio, passou por uma reestruturação e foi transformada num museu para não apenas relembrar, mas fazer ecoar neste século a produção do pensador, morto no final da década de 1990. Lembranças do seu diário, fardão da Academia Brasileira de Letras, fotografias de diversas etnias indígenas conversam com a produção cultural tanto da época quanto a contemporânea, como o funk, hip hop, instalações audiovisuais imersivas e até entrevistas podcast.

Área externa da casa: projeto de Oscar Niemeyer. Foto: Leonardo Fonseca

O imóvel, projetado pelo renomado arquiteto e amigo de Darcy, Oscar Niemeyer, fica na Praia de Cordeirinho e foi adquirido pela Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar). Nos últimos anos, um minucioso trabalho de pesquisa e museografia ficou a cargo do artista Gringo Cardia. Inaugurado em junho, o espaço tem exposições permanentes com visita guiada, espaços de convívio, gravação de podcasts e cursos sobre a cultura brasileira e a produção de Darcy Ribeiro. Tudo gratuito.

A área externa do museu. Foto: Leonardo Fonseca

“Eu sou arquiteto, já conhecia a casa de fora e pude ver como está. É mais que um acervo dele, mas uma conversa com as ideias que ele tinha”, disse Gilberto Silva, de 65 anos, morador da vizinha Niterói.  

O arquiteto Gilberto Silva visitou o Museu Casa Darcy Ribeiro. Foto: Leonardo Fonseca

Veja como é cada “cômodo”

Há salas de exposição, dois cinemas, karaokê, espaços interativos e áreas de convivência divididos entre a casa original e um edifício anexo moderno. Quem optar pela visita guiada já será convidado a refletir sobre a obra de Darcy Ribeiro no quintal, onde há uma instalação com troncos onde o visitante pode passear pela obra.

Casa ganhou um anexo e instalação de arte no jardim. Foto: Leonardo Fonseca

Sala brava gente brasileira 
Mostra aspectos da formação do povo brasileiro. Darcy Ribeiro falava “civilização brasileira” já que, segundo ele, o que se formou aqui é algo distinto de tudo mais que há no mundo. As influências se somaram e se transformaram em algo único. Para representar isso, Gringo Cardia encheu as paredes da sala de nichos, e cada um deles mostra um aspecto cultural, da herança europeia à contribuição que pessoas escravizadas trouxeram para essa terra.  

O povo brasileiro. Foto: Leonardo Fonseca

Corredor com desenhos de Dimitri Ismailovitch
Retratos de pessoas da primeira metade do século XX mostram a diversidade de traços físicos que molda a nossa sociedade tão plural. Os desenhos são do artista Dimitri Ismailovitch, um artista muito influente na sociedade carioca nos anos 1930.

Corredor de desenhos: tipos brasileiros. Foto: Leonardo Fonseca

Sala Revolução pela educação
Senador, antropólogo, escritor, secretário de Estado são adjetivos presentes na vida de Darcy, mas o título de educador é o que seguiu com ele em cada uma de suas funções. Nos cargos políticos, criou a UnB e os CIEPS com educação integral, este último com prédios projetados pelo amigo Oscar Niemeyer. Nesta sala há uma maquete do CIEP como foi pensado e dezenas de esculturas do artista João Alves representando crianças com o primeiro modelo de uniforme desse Centro Integrado de Educação Pública. O Sambódromo do Rio, passarela da cultura, também é uma criação da dupla. Darcy fez questão de que, sob as arquibancadas, houvesse salas de aula como num CIEP. Cultura e educação, para Darcy, andam juntas. Nesta sala há, ainda, uma homenagem a Niemeyer, com maquetes de outros projetos marcantes do arquiteto.

Sala Revolução pela Educação. Foto: Leonardo Fonseca

Sala utopias de Darcy
O erudito e o popular estão nessa sala, lado a lado, a educação e a cultura do povo. O fardão da Academia Brasileira de Letras em exibição numa vitrine de um lado da sala, e o samba do outro, com obras representando um desfile de carnaval. Entre as duas vitrines, a escrivaninha que Darcy usava em Brasília: uma mesa singela frente a grandiosidade de suas ideias.

Sala Utopias de Darcy tem o fardão que ele usou na Academia Brasileira de Letras. Foto: Leonardo Fonseca

Sala Rap, trap, poesia e pensamento e Sala Karaokê
O samba não é a única forma de arte que o povo brasileiro criou ou se apropriou e aprimorou para se expressar artisticamente. Funk, rap, partido alto, sambas enredo e até slam desempenham papel importante na fala do povo, principalmente da parcela que está nas margens, nas periferias. Essa sala disponibiliza ao público uma extensa lista de opções de vídeos nestas expressões artíticas que conversam com o pensamento de Darcy. E não apenas: no karaokê, o público pode dar o seu tom a músicas e poesias, contribuindo para o museu. A gravação é disponibilizada para o participante por e-mail.

Sala Os Brasis de Darcy
Sala de imersão que convida o visitante a cantar, dançar e refletir a obra do antropólogo. Com decoração que lembra uma floresta, primeiro lar dos povos originários, o espaço tem uma grande tela onde são exibidos vídeos sobre os povos indígenas, com seus sons e musicalidade. Com as luzes que brilham de acordo com a movimentação das pessoas, o convite ao movimento está feito. As músicas são entremeadas por depoimentos sobre a vida e obra de Darcy com esses povos.

Vídeos, música e dança em sala interativa do Museu Casa Darcy Ribeiro. Foto: Leonardo Fonseca

Espaço Berta Ribeiro
Sala com mapas das áreas indígenas demarcadas no Brasil. A demarcação de terras indígenas foi uma bandeira levantada por Darcy e pela mulher que foi sua companheira por muitos anos, Berta Gleizer Ribeiro. Ela mesma tem importante contribuição para a preservação desses povos. Na sala, além dos mapas, são reproduzidos vídeos sobre o trabalho dela e de Darcy com os povos originários.

Um pouco da obra de Berta Gleizer na casa. Foto: Leonardo Fonseca

Cinema dos espelhos
Um grande cinema com a tela cercada por espelhos que ampliam o assunto abordado. Projeções de fotos de indígenas brasileiros e sua arte e artefatos. Imagens recentes e antigas, algumas feitas pelo renomado fotógrafo Sebastião Salgado. Os espelhos podem ser entendidos como a profundidade dos temas e a miríade de povos que habitavam essas terras, assim como o mergulho profundo que precisa ser feito para entender o povo brasileiro.

O povo brasileiro: histórias preciosas
Quiosque no jardim da casa, o espaço disponibiliza um acervo crescente de depoimentos de pessoas que conviveram com Darcy em Maricá e pessoas cujas obras dialogam com o pensamento do antropólogo e que tenham relação com o município que ele escolheu para chamar de lar

Quiosque no quintal tem depoimentos em vídeo de pessoas que conviveram com ele. Foto: Leonardo Fonseca

O Museu Casa Darcy Ribeiro fica na Rua Darcy Ribeiro, 395, de frente para a Praia de Cordeirinho, Maricá. A entrada é gratuita. A programação pode ser acompanhada pelo Instagram @casadarcyribeiromarica ou pelo perfil da Codemar @codemarmarica.  

Horários de visitação às exposições

Quarta a sexta, de 10h às 17h, com entrada até as 16h;
Fim de semana e feriados de 11h às 18h, com entrada até as 17h.

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