Racismo ambiental foi tema de palestra com transmissão ao vivo pela internet
Racismo ambiental, um assunto que vem ganhando destaque nas discussões sociais, foi o tema da 6ª edição do webnário “Reconstruindo o Brasil a partir de Darcy Ribeiro”. Alunos da Escola estadual Darcy Ribeiro, em Itaipuaçu, Maricá, puderam participar presencialmente da palestra que foi transmitida ao vivo na internet. O evento é parte de uma série de dez webnários apresentados pela Codemar (Companhia de Desenvolvimento de Maricá) em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro. O ativista social Raul Santiago ministrou a palestra. A curadoria é de Heloísa Buarque de Hollanda.
“A gente, que é pobre, periférico, só vive o racismo ambiental na prática [sem um nome]. Ele é nada mais nada menos do que dizer que há desigualdade diante da crise climática e ambiental. Eu sou lá do Complexo do Alemão. Eu já fui vítima de enchente. Mesmo nas catástrofes climáticas, há desigualdade, há quem experimente de forma mais violenta. Onde é mais suscetível de enchente, na área nobre ou nas favelas?”, explicou Raul Santiago aos estudantes e à audiência on-line.
Segundo Raul Santiago, o racismo ambiental se liga também ao preconceito sofrido por pessoas que moram nesses locais marginais, mais afastados, com reflexo, por exemplo, nas oportunidades que cada um tem na vida.
“Durante muitos anos, para conseguir um curso, um emprego ou circular na cidade do Rio, falando que morava no Complexo do alemão, era complicado. As primeiras vezes, com 15 anos, que fui procurar uma vaga de jovem aprendiz, quando eu falava que morava no Alemão, tudo mudava. A pessoa pensa: ‘Eu vou dar emprego para um cara lá do Alemão, vai assaltar a minha loja, vai não sei o que e isso e aquilo’”, exemplificou Raul.
A saída, quase sempre, era negar as próprias raízes, traçando, como Raul chamou, “estratégias de sobrevivência”.
“A gente vai criando estratégias de sobrevivência, de negar o nosso endereço. ‘Pô, eu moro em Ramos, eu moro em Bonsucesso’. Ainda que eu tenha que andar mais, eu garanto circulação e possibilidades na sociedade. Só que isso é muito duro e muito cruel. ‘Pô, lá de Maricá. Vai querer trabalhar aqui no Centro do Rio? Vários ônibus, vai chegar aqui nunca, cheio de trânsito’”, indicou as possíveis críticas de quem exerce o racismo ambiental.
Vale conferir
O vídeo completo do webnário está disponível no canal da Prefeitura de Maricá no Youtube (@prefeiturademarica1). A palestra foi dividida em três blocos e, a cada intervalo, batalhas de rap e slam com artistas locais e acerca do tema da palestra foram feitas. Também aconteceu um concurso de poesia envolvendo os alunos da escola que sediou o evento.
Raul Santiago elogiou a iniciativa da Codemar e da Prefeitura de Maricá de levar discussões tão importantes para o público juvenil e pela criação de espaços que incentivam a cultura, como a Praça das Utopias, que está sendo construída em Cordeirinho, e que faz parte do complexo que inclui a casa onde morou o antropólogo Darcy Ribeiro.
“A gente está aqui em Maricá, uma cidade que é referência no país como um todo de possibilidades de como a política pública pode, sim, gerar impacto real e transformador na vida das pessoas, inclusive e principalmente no campo ambiental, no campo climático. No campo do que nos reúne aqui hoje para fazer essa discussão. Então ocupem esses espaços aqui no território de vocês”, disse Raul.