Intelectuais se reúnem no Museu Casa Darcy Ribeiro para falar de utopias e a construção social a partir de Maricá

O futuro da cidade e do Brasil foi discutido com base no legado do antropólogo na casa onde ele morou e escreveu sua mais aclamada obra, ‘O povo brasileiro’

Grandes nomes da cultura brasileira se reuniram na noite desta quinta-feira (14/11), em Maricá, para falar de utopias. O encontro, no Museu Casa Darcy Ribeiro usou, o legado do homenageado como ponto de partida para projetar o futuro almejado para o Brasil e a contribuição que a cidade pode dar nesta construção. Depois da conversa, a música embalou a noite dos presentes. O Museu Casa Darcy Ribeiro é uma realização da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar).

Plateia acompanhou mesa que discutiu utopias no Museu Casa Darcy Ribeiro. Foto: Paulo Ávila

Participaram do bate-papo no museu constituído na casa onde Darcy viveu, na Praia de Cordeirinho, o cineasta Neville d’Almeida; o ator José de Abreu; o diretor do Instituto Inhotim, Antônio Grassi; o presidente da Fundação Darcy Ribeiro, José Ronaldo; o historiador Francisco Carlos Teixeira; o presidente da Codemar, Hamilton Lacerda; e o diretor de Economia Criativa da Codemar, Sady Bianchin.

Hamilton Lacerda, presidente da Codemar, participou da conversa sobre utopias de Darcy Ribeiro e de Maricá. Foto: Paulo Ávila

“Esse museu é um orgulho para a Codemar, um equipamento que registra a nossa história e um presente que Maricá entrega para o Brasil, para o povo brasileiro, para colaborar com a construção da nossa identidade”, afirmou Hamilton Lacerda ao abrir a mesa.

Hamilton falou, ainda, dos próximos passos na estruturação dos legados dos grandes nomes que viveram na cidade, como Darcy. O Museu do Samba, na casa que pertenceu à cantora Beth Carvalho, e a Casa Museu Maysa foram citados, bem como tratativas para uma Casa da Democracia, num imóvel do ex-presidente João Goulart no bairro Ponta Grossa, e outro espaço cultural vinculado ao Henfil, cuja família também tem propriedade em Maricá.

Sady Bianchin, diretor de Economia Criativa da Codemar, fez a mediação do debate. Foto: Paulo Ávila

Sady destacou que o evento ganhou ainda mais brilho com o novo título recebido por Darcy um dia antes, o de Herói da Pátria:

“Essa reparação histórica confere mais brilho a essa conversa de hoje, nesta casa onde Darcy, agora Herói da Pátria, escreveu o seu mais importante livro, “O povo brasileiro”. Foi daqui que ele defendeu de forma tão bela a nossa cultura autêntica e legítima e também é daqui de Maricá que as utopias de Darcy estão sendo lançadas através de políticas que transformam a vida das pessoas”, pensou Sady.

José de Abreu leu trecho de texto de Darcy Ribeiro: inspiração. Foto: Paulo Ávila

José de Abreu entregou aos participantes, para reflexão, um célebre trecho de texto de Darcy onde o antropólogo diz ter fracassado em tudo o que tentou fazer: educação de qualidade, proteção e valorização de povos indígenas, cultura brasileira no centro e tantas outras ações. Mas, segundo o autor, que foi perseguido e exilado, “detestaria estar ao lado de quem em venceu”.

Arte é a vida

Para Antônio Grassi, diretor do Instituto Inhotim, um dos maiores museus de arte a céu aberto do mundo, uma grande utopia de Darcy Ribeiro e que ele pôs em prática nos projetos dos CIEPs é ter a arte como tema transversal em toda a sociedade.

Antônio Grassi: a arte a cultura precisa ser um tema transversal à vida. Foto: Paulo Ávila

“A arte não deve ficar isolada num pedestal, e Darcy sabia disso e a integrou nos CIEPs. A arte, a cultura, é um tema transversal em toda a nossa vida. Tem que falar de segurança, de educação, mas com a arte e a cultura em meio a isso tudo. O ser humano é assim”, avaliou.

Francisco Carlos Teixeira falou sobre o que era o CIEP e lamentou a falta de continuidade. Foto: Paulo Ávila

O historiador Francisco Teixeira também apontou os CIEPs como uma das maiores utopias que deveriam continuar a ser perseguidas:

“A nossa geração não poderia ter perdido a chance que Darcy Ribeiro nos deu. Na época, a oposição afirmou que o CIEP era só um projeto arquitetônico. Ele era, sim. E não tem problema em escola pública ser bonita. Mas era muito mais. Era também um projeto pedagógico emancipador. Era, ainda, projeto social, projeto de saúde, projeto esportivo, era projeto cultural”, enumerou.

Maricá no mapa

Para Neville d’Almeida, a escolha de Darcy Ribeiro por Maricá e o empenho da cidade em ter as utopias do antropólogo e educador como orientação colocam a cidade num rumo para uma posição central.

O cineasta Neville d’Almeida celebrou as políticas de Maricá. Foto: Paulo Ávila

“Darcy nasceu em Montes Claros (MG) mas escolheu Maricá. E o trabalho que a cidade vem fazendo a colocará no mapa mundial da cultura e da arte. Darcy era uma pessoa múltipla, um pensador moderno. Suas ideias ficam e a gente tem como pegá-las e transformá-las em coisas novas”, disse o cineasta.

O presidente da Fundação Darcy Ribeiro, José Ronaldo, falou do convívio com o antropólogo e seu legado. Foto: Paulo Ávila

Das ideias e inquietações de Darcy Ribeiro, como diz José Ronaldo, presidente da fundação que leva o seu nome, será construído o futuro:

“Darcy era um homem do porvir. Pensava, realizava e, logo, estava pensando no que viria depois. O fundamento da utopia é o que está por vir. E Maricá, hoje, é a plataforma de lançamento das coisas, daquilo que virá. É um belo legado”, finalizou José Ronaldo.

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