MC Marechal e União de Maricá foram destaques do evento. Em dez episódios, pensadores de todo o país foram levados a falar sobre a contribuição da obra do educador na busca por uma nação mais justa
A festa em homenagem aos 101 anos de Darcy Ribeiro, um dos maiores intelectuais do país e que escolheu Maricá como lar, levou centenas de pessoas à Praça Orlando de Barros Pimentel, no Centro da cidade, apesar da chuva que insistiu em cair na noite desta quinta-feira (26/10). Foi realizada, no local, a última edição da série de 10 webinários que discutiram a contribuição da obra do antropólogo e educador na construção do Brasil. A iniciativa é da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), com curadoria de Heloísa Buarque de Hollanda.
Participaram da edição o Mc Marechal e a escola de samba União de Maricá, além de diversos outros artistas que contribuíram através de vídeos, como Criolo, Projota e GOG. Darcy Ribeiro foi um grande incentivador da criação de uma identidade para a “civilização tropical” brasileira, com suas diferentes contribuições étnicas e sociais. Os episódios estão disponíveis no canal da Prefeitura de Maricá no Youtube (@prefeiturademarica1).
“Darcy acreditava no povo brasileiro, no que ele chamou de nova civilização do mundo, que padeceu e ainda padece com a injustiça social, mas que pode transformar isso através da educação”, disse Nega Gizza, que apresentou toda a série de webinários com transmissão simultânea pelo canal da Prefeitura de Maricá no Youtube.
Temas ainda atuais
Temas como racismo, preconceito contra indígenas e mulheres, pobreza, educação, segurança pública. Todos são temas presentes na obra de Darcy Ribeiro. É ele o autor da célebre frase “se os governantes não construírem escolas, em 20 anos vai faltar dinheiro para construir presídios”. A profecia foi proferida na década de 1980, quando ele deu início à construção dos CIEPs, um projeto de educação integral abandonado pelos governos posteriores.
“É bom ver uma cidade onde a cultura cresce, onde a juventude não se retrai. Onde os jovens não têm medo de crescer. É sempre muito bom quando me apresento em Maricá”, celebrou Projota na sua participação em vídeo.
Investimento em Cultura
O presidente da Codemar, Hamilton Lacerda, ressaltou o papel da companhia no investimento em cultura e educação para perseguir o desenvolvimento sustentável.
“Estamos resgatando essas pessoas que são ícones fundamentais para a identidade e cultura maricaense”, acrescentou.
Ainda segundo Lacerda, transformar a residência de Darcy, em Cordeirinho, na Casa Museu Darcy Ribeiro faz parte desse projeto de colocar Maricá numa posição central na cultura do país. Outros grandes nomes nacionais estão tendo suas casas transformadas em museus pela Codemar, como Beth Carvalho e Maysa.
Cidade Plural
Para o secretário de governo da Prefeitura de Maricá, João Maurício de Freitas, que representou o prefeito Fabiano Horta no evento, a cidade se orgulha de ser lar de pensadores como Darcy Ribeiro, que representam a pluralidade do povo.
“Darcy Ribeiro representa educação, mas também cultura, carnaval, povos indígenas, valorização dos professores. Esta é uma cidade que valoriza a cultura, o multiculturalismo, que é contra todos os preconceitos”, disse João Maurício.
Webinários e memória
A série de dez webinários batizada de “Reconstruindo o Brasil a partir de Darcy Ribeiro” foi pensada pela Codemar e iniciada no aniversário de centenário do antropólogo, no ano passado. Com a curadoria de Heloísa Buarque de Hollanda e produção de Gringo Cardia, levou grandes pensadores da cultura brasileira a resgatar temas tratados por Darcy e atualizar a sua evolução para a década de 20 deste século.
Darcy morreu em 1 de fevereiro de 1997, depois de dedicar a vida à pesquisa social e à educação. Foi em Maricá, já nos seus últimos anos de vida, que escreveu a sua maior obra, intitulada “O Povo Brasileiro”, tendo inclusive fugido do hospital, onde era tratado de câncer, para se refugiar no seu lar à beira mar. Além dos livros, deixou legados grandiosos como o Parque Indígena do Xingu, a Universidade de Brasília, o projeto de educação integral dos CIEPs no Rio de Janeiro e o Sambódromo do Rio, na Marquês de Sapucaí. Estes últimos já depois do exílio em países da América Latina por conta da perseguição durante a ditadura militar no Brasil.