Jovens indígenas e anciãos se reúnem para falar sobre sentimentos e fortalecimento da cultura ancestral
O fortalecimento da ancestralidade indígena e questões de saúde mental entre as novas gerações foram assuntos abordados durante o encontro de guaranis em Maricá, nesta semana. A aldeia Mata Verde e Bonita, em São José do Imbassaí, recebeu pajés e representantes do povo guarani do Rio de Janeiro para troca de conhecimentos com foco na saúde e promoção do VI Seminário Internacional América Indígena, realizado nesta quinta-feira (09/11).
O evento foi organizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Secretaria Estadual de Saúde. O trabalho conta com apoio da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), por meio da Biotec, e da Prefeitura de Maricá.
Seminário
O VI Seminário Internacional América teve mesas centradas nas necessidades atuais dos indígenas, e as mais urgentes são relativas à saúde mental.
Relação com a terra
Para Fábio Henrique Arevalo, indígena e psicólogo com vasta atuação com representantes de diversos dos povos originários, é impossível falar de saúde indígena sem abordar a terra. O vínculo dos indígenas com o território é diferente da relação dos não-indígenas com o espaço.
“Não tem como falar em saúde mental dos indígenas sem entrar no direito ao território. Todos os indígenas estão sofrendo, e a raiz desse problema é a perseguição que sofrem por conta da terra e todo o racismo que enfrentam”, afirmou o especialista durante a primeira mesa do seminário, nesta quinta.
Conversa com a juventude
Um dia antes do seminário, Fábio, que é da etnia Guarani-Ñandeva, do Mato Grosso do Sul, fez um trabalho com os jovens indígenas reunidos em Maricá.
“A gente ouviu muito sobre a dificuldade que os jovens têm de expressar o que sentem. Também ouvimos dos mais velhos e sobre a dificuldade que a juventude tem de chegar até eles, de ouvir, de aprender. Os mais velhos têm histórias de resistência e de superação para nos contar”, destacou.
Território fortalecido
A pedagoga Martinha Mendonça, indígena guajajara, é professora na Escola Municipal Indígena Guarani Kyringue Arandua, na Aldeia Céu Azul, em Itaipuaçu. Ela apontou que há um quadro preocupante de suicídios na juventude guarani.
“Podemos pensar sobre várias coisas, inclusive que são reflexos também da pandemia. Mas a onda de violência e o racismo que a gente sofre são agravantes que acabam afetando a saúde mental desses jovens. Esse encontro é para pensar nesse lugar”, disse.
Parceria rumo a novos conhecimentos
O encontro teve como missão transmitir os conhecimentos milenares sobre plantas medicinais para as novas gerações do povo indígena. O projeto Farmacopeia Mari’ká, da Biotec, busca, em conjunto com os indígenas, avanços no uso de fitoterápicos. Para a pesquisadora Ironilde Silva, pós-doutorada em Ciências Sociais pela UFRRJ, um trabalho primordial.
“Esse conhecimento de plantas medicinais e o contato com os detentores desses conhecimentos têm sido muito ricos”, avaliou Ironilde.